“Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança… Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha…!”
Castro Alves, Navio negreiro
Fossem apartados em cantos distintos, sociedade e governo, e entendendo governo como o conjunto formado pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, restaria que as agruras experimentadas atualmente pela população, na forma de inflação, desemprego e sensação de desamparo, advêm unicamente da sofrida qualidade daqueles que compõem o governo e comandam a máquina pública.
Em outras palavras, pode-se afirmar, sem margem de erro, que a crise atual sem precedentes que assola os brasileiros tem sua origem e seu catalisador justamente no governo. Tendo em vista que, por suas características e razão de sua própria existência, cabe aos governos cuidar para que a sociedade desfrute de plenas condições de bem-estar e segurança, fica posta a contradição.
Para um observador atento, fica patente que o governo, que deveria zelar pela população, é fonte primária de todos os problemas que se abatem sobre os cidadãos. Não fossem as consequências da má gestão do Estado sobre o grosso da sociedade, poderíamos afirmar taxativamente que o povo vai bem, quem está mal e em crise é o governo. A crise é deles. Aos brasileiros resta o sacrifício de arcar, com elevadíssimos impostos, uma máquina de Estado convertida em moedor de carne humana.
Sinais, nem tão sutis assim, podem ser observados por toda a cidade, estampados em números garrafais nos chamados impostômetros. Quem passa pela manhã e vê um valor, ao meio-dia já nota que esse número variou muito para cima.
Dos contribuintes são sorvidos em minutos quantias fabulosas, fazendo da carga tributária brasileira um monumento mundial, equivalente ao colosso de Rodes. Certamente, podemos inferir que pagamos muito, para termos em troca não só os péssimos serviços de sempre, mas, sobretudo, para sentirmos na pele os efeitos de uma crise poderosa, que absolutamente não nos pertence. Temos assim o mesmo destino lúgubre dos escravos de outrora que pagavam pelo chicote que os açoitava. Não bastasse bancar a máquina paquidérmica que o esmaga, resta aos cidadãos acreditar que mudanças virão ali adiante e seguir em procissão carregando no andor o Leviatã moderno.
Triste sina essa de um povo que, ao longo dos séculos, segue pagando o preço de sua agonia sem se rebelar, sem nada dizer.
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