Bico injetor – Fim da picaretagem?

Boris Feldman – Estado de Minas

Montadora afirma ser desnecessária a limpeza de bicos, desmascarando concessionárias que a incluem nas revisões periódicas. Está mais complicado as oficinas das concessionárias enganarem seus clientes ao incluir a “limpeza de bicos injetores” na relação  e serviços das revisões periódicas, pois já há pelo menos uma montadora afirmando objetivamente, no manual do proprietário, que a operação é desnecessária. A receita para o faturamento desonesto é simples: como o automóvel deve ser levado à oficina autorizada para uma revisão “gratuita” sob pena de perder a garantia do fabricante, os recepcionistas (consultores técnicos) são instruídos a incluir – entre os itens previstos no manual – outros serviços rigorosamente desnecessários, como a tal limpeza de bicos. Outros preferidos das concessionárias são a descarbonização (que algumas chamam de descontaminação) do motor, higienização do ar-condicionado, limpeza do sistema de refrigeração, troca do fluido de freio, reaperto geral, lubrificação de portas e maçanetas, etc. Alguns devem ser realizados de fato, mas jamais na revisão de 10 ou 15 mil quilômetros. A limpeza de bicos e a descarbonização, por exemplo, raramente são necessárias. A conseqüência desta enrolação é que uma revisão obrigatória, que deveria custar cerca de R$ 200 a R$ 300, acaba beirando ou ultrapassando os R$ 1 mil.

Reprodução/Manual da Ford
Conforme manual do Ford Focus Flex, limpeza de bicos é dispensável. No manual As oficinas das concessionárias, para convencer os motoristas a aprovar o serviço, costumam alegar que a recomendação parte da própria montadora. Como ninguém confere no manual se o item está relacionado ou não, o serviço acaba sendo autorizado.
Mas agora, pelo menos uma montadora, a Ford, preocupou-se com o bolso do consumidor e resolveu ser objetiva em seu manual, afirmando expressamente não ser necessária a limpeza de bicos injetores nas revisões periódicas, pois eles são autolimpantes. A explicação dos engenheiros das montadoras é que os bicos (o nome técnico é válvula injetora) são submetidos a pressões levadíssimas na passagem do combustível e, por isso, é difícil ou quase impossível a formação de resíduos em seu interior. Afirmam também que existe de fato a possibilidade de problemas nos bicos, mas que, neste caso, a solução é quase sempre sua substituição. Além disso, a eventual limpeza de bicos só é necessária caso o motor apresente um problema de desempenho: difícil de pegar, marcha lenta irregular ou com variação de rotações. E nunca “preventivamente”, como insinuam os consultores. E as outras?

Se vale para a Ford, vale para as outras montadoras, por um simples raciocínio: existem duas grandes fabricantes de sistemas de injeção (que incluem os bicos) no Brasil, a Bosch e a Magneti Marelli. Que fornecem para a Ford e também para outras marcas. Portanto, a observação da Ford em seu manual vale para praticamente todos os demais modelos. Quando um automóvel é levado para a revisão periódica e a concessionária inclui no orçamento algumas operações não previstas pela montadora, o dono deve negar e não autorizar sua execução, para evitar pagar por um serviço totalmente desnecessário. Se a oficina insistir, basta pedir que seja verificada a relação oficial de itens prescritos para a revisão.
Empurroterapia Muitas concessionárias aplicam uma fórmula simples de estimular os recepcionistas da oficina a empurrar serviços desnecessários no momento em que o carro é levado para a revisão: eles são comissionados pelo faturamento conseguido à custa do desconhecimento do cliente. A limpeza de bicos é justificada pela gasolina adulterada e a descarbonização (ou “descontaminação”) fica por conta do excesso de enxofre ou do óleo lubrificante. Até na hora de receber o carro zero quilômetro o cliente é vítima de golpe baixo: é quando se tenta enganá-lo com o “espelhamento” da pintura, totalmente inútil e que prejudica a camada protetora aplicada pela montadora quando o carro deixa a linha de montagem.